TEM FIM DO MUNDO PARA TODO MUNDO – Texto do irmão Agostinho, osb, do Mosteiro da Ressurreição.

fim do mundoDepois de algumas ameaças em agosto de 1999, e algumas outras, incompreensivelmente mais tímidas neste fim oficioso de milênio, o mundo finalmente não acabou. [Essa frase esquisita se deve à exorbitante antecedência com que devo entregar as crônicas; quero ver quando o mundo acabar mesmo como é que vai ser.] A hipótese, entretanto, não está totalmente descartada, e por isso formulei algumas alternativas, especialmente considerando o fato de que uma importante secretária eletrônica do Planalto me garantiu, em off, que por causa da privatização da Apocalipsebrás o fim do mundo no Brasil vai atrasar aí uns trinta dias em relação ao restante do planeta. Neoliberalismo dá nisso. [Se você quer mesmo saber se vai ao dentista ou à praia no fim do mundo, consulte a Testemunha de Jeová mais próxima e tome cuidado com qualquer data, menos a que ela anunciar como sendo a fatal.] Mas prepare-se:

1) Não vai acontecer.

Não enquanto houver gente marcando a data. A Bíblia é para lá de clara sobre o tema: ninguém sabe o dia e a hora, acontecerá quando vocês menos esperarem, virá como um ladrão, à noite, na hora da último capítulo da novela. [Nota do digitador: os fãs de ‘Avenida Brasil’ que se cuidem! Rs] E com a vantagem que, quando realmente acontecer, não vai ter como deixar de notar.

O que me preocupa somos nós, os católicos. Quando finalmente nos dermos conta de que pedmos exatamente isso todos os dias (o que significa, afinal, “venha a nós o vosso Reino”?), pode ser que justamente aí o Homem atenda, e estamos lascados. Seja lá como for, peço encarecidamente aos profetas, videntes e nostradamus de plantão: continuem marcando a data do fim do mundo.

2) Vai acontecer.

Os Quatro Vendedores de Enciclopédias se levantarão nos cantos da terra, e se precipitarão sobre ti, e o teu tédio será mortal. Tu fugirás para o Norte, e o ACM [Neto] estará lá. Irás para o Sul, e o Maluf chegará antes de ti. Ligarás a televisão, e verás o Ratinho em rede nacional. E isso ainda não será o fim, pois quando a carne estiver no fogo e o samba rolando, decobrirás que tem cerveja, sim, mas ESTÁ QUENTE.

3) Vai acontecer mesmo.

Bem. Certo. Calma. Mulheres, crianças e monges primeiro. Foi bom estar com vocês, foi muito bom brincar, trabalhar, amar e brigar com tanta gente que, para não cometer alguma injustiça, não vou relacionar aqui. Desculpem qualquer coisa. Quero aproveitar para mandar um beijo para o meu pai e a minha mãe.

Deixo este mundo sem reclamações, talvez apenas um pouco chateado com aqueles dias de férias em que não deu praia, algumas decisões no tapetão, mas tudo bem. A visão do Dedo de Deus, em Teresópolis, um fim de tarde no bosque aqui do mosteiro e bolinho de bacalhau com chope compensam e consolam de tudo. Continuo pedindo um pouco de compreensão aos meus antigos credores. Só mais um pouco. Levo comigo a melhor escalação jamais feita da seleção.

Pretendo vestir meu hábito e, juntamente com meus irmãos, continuar cantando o Louvor Divino, mas já em clima de ensaio geral. Se bem que uma última cerveja em companhia dos amigos, lá na minha terra, falando mal do Luxemburgo, é uma opção a considerar. Minha estratégia é ficar pedindo saideiras, que brasileiro algum (dizem que Ele é) tem coragem de negar.

Corre também um boato que Ele tem uma inclinação secreta pelo Botafogo do Rio de Janeiro, e como meu pai e meu tio torcem por esse, ahn, time, e eu mesmo sou um remoto simpatizante, quem sabe se… não? Tem que saber até os nomes dos massagistas e preparadores de goleiros nos últimos trinta anos? Ah… Bom, foi mesmo um prazer.

4) Não aconteceu.

A gente se vê por aí.

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